Não é novidade que a geração Y utiliza-se das mídias digitais para se comunicar e também para estabelecer relações interpessoais. E por que não se aproveitar dessa característica dos jovens para fins pedagógicos? Quando as novas mídias adentram no ambiente formal de ensino, algumas mudanças são notórias. A primeira delas é justamente o fato de que o relacionamento entre professor e aluno dentro da sala de aula muda, pois, ambos podem compartilhar das mesmas informações de forma igualitária, fazendo com que, tanto o discente quanto o docente fazer uso do conteúdo da rede para
adquirir mais conhecimento, ou seja, a comunicação horizontal e inteligência coletiva são parceiras no processo educacional. Com o advento da web 2.0 (também conhecida como computação social) ficou muito mais fácil compartilhar diversos tipos de conteúdo digital e assim a relação com o saber vem sendo reformulada.
Temos que aprender a dominar a máquina e o ciberespaço. Ensinar e aprender são fundamentais para que possamos usufruir da tecnologia.
Mas, antes de adentrar mais no assunto, é importante ressaltar que toda rede social, é uma mídia social que, é uma mídia digital, ou seja, se as redes sociais são plataformas de relações interpessoais mediadas pelo computador, sobretudo em busca da informação, passa a ser uma mídia social tendo em vista que este termo designa aplicações típicas da web 2.0 que permitem a criação e a troca de conteúdo, e, as mídias digitais contém os outros pois, qualquer meio de comunicação que faz uso da tecnologia digital é uma mídia digital. Vale lembrar os conceitos de redes sociais online, mídias sociais e mídias digitais são distintos e, acima de tudo, ainda estão se formando, ou seja, não estão consolidados.
Cada plataforma de rede social na Internet possui suas características, mas, em geral, todas podem exercer a função de ‘filtros’ de conteúdo em meio a esse ‘dilúvio’ de informações em que todos nós estamos inseridos. Além disso são ferramentas poderosas na difusão da inteligência coletiva, principalmente devido à necessidade de relacionamento das pessoas que, em geral, se dá através do compartilhamento de informações. André Lemos e Pierre Lévy ainda ressaltam que os brasileiros são ativos produtores de informação e participantes das redes sociais, por isso, algumas plataformas podem ser destacadas devido a seus potenciais pedagógicos.
O Orkut como ferramenta pedagógica
O maior mérito do Orkut é justamente o fato de ser a que mais agrega brasileiros, sobretudo os mais jovens. De acordo com a pesquisadora carioca Vanessa Bohn, o educador deve aproveitar essa característica de sociabilidade dos jovens brasileiros e criar comunidades específicas com fóruns sobre temas específicos sempre mediados pelo professor, que, na verdade passa a ser um provocador da construção do conteúdo fora da sala. É importante ressaltar que, inclusive os aplicativos sociais, principalmente os jogos sociais que, apesar de pedirem um domínio maior das ferramentas de programação por parte do professor, permitem que o aprendizado seja estimulado de forma descontraída e interativa.
Ning: um comunnity building a favor da educação
Apesar de pouco conhecido no Brasil, o Ning, conhecido por ser um community builder, ou seja, uma ferramenta que possibilita a construção de uma rede social própria e que permite uma grande personalização de ferramentas como fóruns, blogs, chats, vídeos, imagens, áudio, dentre outros. Vanessa Bohn também reitera que o Ning permite que o professor crie sua própria rede social para agregar especificamente quem tem interesse em aprender sua disciplina, ou seja, seus alunos, por isso mesmo atrai muitos educadores e professores e já pode ser comparado até mesmo a um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Alguns pesquisadores apontam essa plataforma como uma alternativa ao tradicional quadro-negro, mas ressaltam que ele requer muito tempo e envolvimento do educador para que o projeto dê certo.
Twitter: Informação e Educação andam juntos
Também cotada como um news media (em tradução livre: meio de notícias) por alguns pesquisadores, o Twitter permite a disseminação da informação de forma rápida e eficiente. Além disso, essa rede social cognitiva baseada na troca de informações permite uma espécie de ‘armazenamento’ do conhecimento. O uso de hashtags, ou seja, ao se colocar o símbolo “#” diante de uma ou mais palavras aglutinadas, permite que o conhecimento seja “etiquetado”, fazendo com que os usuários possam seguir informações específicas sobre um assunto e/ou evento. Essa característica torna o Twitter um tipo de indexador de conteúdo, pois, as mensagens trocadas entre os usuários podem conter hiperlinks que redirecionem o internauta para um aprofundamento que vai além dos 140 caracteres.
Projeto educacionais aliados à inclusão sócio-digital
O uso das novas tecnologias associadas ao ambiente formal de ensino é uma realidade que pode ser reiterado por centros de estudos específicos sobre a área, como é o caso do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), que vem demonstrando como o uso das redes sociais no ambiente escolar pode colaborar para o processo do ensino-aprendizagem. “A ampla disseminação entre as novas gerações do uso das novas tecnologias e, mais especificamente, das redes sociais na internet pode ser de grande valia para educação. O trabalho em rede pressupõe colaboração, cooperação, valores que só enriquecem o processo de aprendizado”.
O grande desafio, entretanto, é fazer com que as instituições de ensino compreendam de que forma as redes sociais podem funcionar como métodos auxiliares de ensino. A idéia é estimular nos discentes o uso dessas redes sociais como meio de interação e aprendizagem coletiva, construindo a partir desse ambiente virtual. Podemos destacar basicamente três projetos que são referência quando se fala em educação e novas tecnologias:
É uma ação do programa EducaRede, iniciativa da Fundação Telefônica sob coordenação técnica do CENPEC. Este projeto, criado em 2007, tem como proposta formar equipes de reportagem entre professores e alunos a fim de produzirem registros com linguagens diferenciadas sobre o que acontece na comunidade local. Os temas, determinados para o trabalho das equipes – “Cidade e Cultura”, “Cidade e Participação Social”, “Cidade e Qualidade de vida”, “Cidade e Trabalho” – têm como objetivo trabalhar a interdisciplinaridade. Em suma, o projeto defende que a tecnologia não pode estar dissociada da educação: ela é parte integrante do processo educativo e não deve ser tratada isoladamente. Além disso, a tecnologia deverá estar presente não como apêndice, mas como realidade que não pode ser ignorada ou desconhecida, da forma mais humana possível.
O objetivo maior do projeto, no entanto é atender não somente as necessidades da escola, como de toda comunidade em volta dela. Coordenado por um núcleo de pesquisa da Universidade de São Paulo – A Escola do Futuro – o projeto também visa melhorias para a comunidade local através dos agentes transformadores, membros do projeto, com a participação em comunidades virtuais, por meio das escolas públicas. A formação inicial é presencial e, em um segundo momento, à distância, sendo dirigida a integrantes dos núcleos de tecnologia das secretarias de educação e a professores das escolas onde o programa atua. As escolas contempladas são equipadas com laboratórios de informática compostos por computadores, scanners, impressoras e acesso à internet. Os alunos pesquisam sobre um dos temas e lançam na comunidade virtual as experiências obtidas no próprio portal do ‘Tonomundo’, gerando assim um intercâmbio de conhecimento da realidade de cada local.
Antes de qualquer coisa, o Kidlink é um projeto de inclusão digital e, como tal, sua principal ação é tornar o computador acessível a comunidades que não o possuam em suas casas ou escolas e tem por objetivo principal contribuir para a formação intelectual dos indivíduos, bem como, a construção de um raciocínio em defesa da preservação dos recursos do planeta, foi desenvolvido a fim de auxiliar crianças e jovens a desenvolverem habilidades e competências através de comunidades virtuais distribuídas em mais de 50 países. No Brasil, o projeto Kidlink teve com precursora a professora Marisa Lucena, em 1995, que centrou as pesquisas para seu doutorado e procurou criar características e iniciativas próprias para o modelo gerado no país. Hoje o Kidlink está sob responsabilidade da Equipe KHouse Modelo PUC-Rio, e engloba o projeto KHouse, que apresenta quatro modelos englobando desde crianças e jovens, até adultos e um modelo profissionalizante.
Uma aula fora da sala
O conhecimento está espalhado pelo ciberespaço. #fato. Cabe ao professor fundamentar os conceitos necessários para que o aluno possa aprender a “nadar” em meio ao dilúvio de informações. Os professores têm que começar a criar mecanismos de construção conjunta. Eles e os alunos vão criar um conteúdo juntos e interpretá-lo. Reconhecer que várias plataformas podem ajudar a incorporar a novas mídias no processo de ensino-aprendizagem é fundamental. É necessário adequar-se aos novos formatos em que o discente passa a ter um papel mais ativo no processo de troca de conhecimento. As redes sociais online tornam esse processo mais ágil e flexível, mas, acima de tudo, é o educador que deve estudar e escolher qual plataforma pode ser mais útil e melhor utilizada.
Confira o artigo na íntegra: “O uso das redes sociais como método alternativo de ensino para jovens: Análise de Três Projetos envolvendo comunidades virtuais” apresentado no IV Colóquio Internacional ‘Educação e Contemporaneidade’ que aconteceu na Universidade Federal de Sergipe no último mês de setembro.
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